Históricos de Boa Vista do Buricá
Históricos de Boa Vista do Buricá
- Publicado em: 07/06/2018 às 13:52 | Imprimir
ASPECTOS HISTÓRICOS DE BOA VISTA DO BURICÁ
A colonização de Boa Vista do Buricá inicia em meados da década de 1920, quando as terras do “além Buricá” começaram a ser loteadas pela administração de Palmeira das Missões; de posse do governo, eram compradas por companhias que se organizavam para vender os lotes ou para particulares. A propaganda para a venda era feita principalmente, sob a alegação da fertilidade do solo; ainda, eram concedidas boas condições de pagamento e prometia-se habitação para o período de desmatamento e erguimento do próprio teto.
No ano de 1928, ocorreu a entrada dos primeiros colonizadores – Jacob Schneider e Emílio Muller, ambos de origem germânica (teuto-brasileiros). O Sr. Emílio Müller foi o primeiro colonizador que procedia a venda de terras na região, adquiridas do governo. Já o Sr. Jacob Schneider foi o primeiro a comprar terras do Sr. Emílio Müller. Iniciada a colonização, levas e levas de agricultores, da Região das “Colônias Velhas” – hoje vales do Rio Pardo e do Rio Taquari, deixaram suas terras e se aventuraram em busca de melhores condições de vida em terras ainda desconhecidas e pouco habitadas do Estado do Rio Grande do Sul. Em sua grande maioria de origem germânica, saíram de suas comunidades - como as atuais Santa Cruz do Sul, Rio Pardo, Roca Sales, Venâncio Aires, Lajeado, Estrela e correram para adquirir lotes, pois já haviam ouvido falar que as "terras escuras" que aqui existiam eram melhores do que as "terras vermelhas" - com ocorrência de formigas - da Colônia do Grande Santa Rosa. Sob condições extremamente precárias, viajavam dias, semanas até; normalmente, a viagem era iniciada com caminhões, até o ponto onde as estradas permitissem, e após, a aventura continuava com carroças. A numerosa família dividia espaço com os poucos pertences e alguns animais que possuíam. Enfrentavam intemperismos, doenças, animais selvagens, enfim, um grande número de perigos até chegarem ao seu destino. Inúmeros relatos dão conta de óbitos, principalmente de crianças pequenas, ao longo do percurso. Chegando às margens do Rio, muitas vezes, mulher e crianças menores ali permaneciam enquanto o chefe da família e os filhos mais velhos atravessava o rio, penetravam no território procurando lugar para fixar-se. Sem, condições de muita escolha, no interior do mato, abriam clareira e punham-se a edificar o rancho. Depois, voltavam para trazer a família e a mudança com um pouco mais de segurança e conhecimento do território.
Ao se falar em colonização, faz-se referência à entrada do homem branco, embora antes destes já habitassem, nesta área seres humanos: índios, bugres e caboclos. Quando os colonizadores teuto-brasileiros aqui chegaram, praticamente não havia mais tribos de índios sediados aqui. O que existiam eram pequenos grupos de caboclos ou “bugres” que viviam quase como nômades, plantando um pouco para sua sobrevivência, caçando, pescando. Mais tarde, era comum que bugres ou caboclos isolados prestassem serviços aos colonizadores – fabrico de cestos, derrubada de árvores – em troca de dinheiro ou comida. O curioso é que esta prática incluía dar abrigo a estes trabalhadores; assim, se disponibilizava o galpão, pois não se confiava neles a ponto de deixá-los entrar na casa da família.
Aos poucos, e à medida que as terras eram legalmente compradas pelos colonizadores, estas populações nativas forma cedendo terreno e muitos saíram desta região.
Assim como os teuto-brasileiros, também compraram terras aqui algumas famílias de descendentes de italianos. Oriundos da região de colonização italiana, como Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves, contribuíram em cerca de 5% na constituição original da população de colonizadores de Boa Vista do Buricá.
As dificuldades enfrentadas no início da colonização foram inúmeras e variadas. Iam desde a falta absoluta de infraestrutura – estradas, transporte, comunicação, problemas de saúde, até a falta de alimentos, uma vez que se dependia unicamente da produção local. Mas, a necessidade de construir uma organização social que garantisse a todos os colonizadores melhores condições fez com que rapidamente, com muita cooperação, conseguissem se estruturar e organizarem-se de forma a ter escola, igreja e algum comércio de produtos de primeira necessidade.
Os primeiros moradores, que compraram as terras do Sr. Jacob Schneider, fixaram-se onde atualmente é a sede do município; já os que adquiriram lotes do Sr. Emílio Muller, instalaram-se na atual comunidade de Ivagaci – chamada, à época, de Santa Teresinha. Esta comunidade a princípio, teve mais moradores, já que foram vendidos mais propriedades nesta área.
Os colonizadores que povoaram o território de Boa Vista do Buricá foram notados pela administração de Palmeira das Missões e, assim, foi nomeada uma equipe para compor o 11º Distrito, em 1933, com sede em Santa Teresinha, que abrangia um extenso território: os atuais municípios de Boa Vista do Buricá, Nova Candelária, Crissiumal e parte de Humaitá. Assim, recebeu profissional nomeado para o cargo de subprefeito e subdelegado, que constituía a autoridade máxima da região. Suas funções englobavam a área administrativa e policial, como: poder policial, de registro de armas, cobrança de impostos e taxas, realização de casamentos... zelando pela ordem do distrito.
Um dos aspectos mais marcantes deste período foi a proibição de se falar a língua alemã, motivada pela 2ª Guerra Mundial, pois o Brasil era inimigo da Alemanha. O problema é que grande parte dos colonizadores de nosso município não dominava a língua portuguesa, e toda a comunicação mesmo nas escolas, igrejas e sociedade como um todo, era realizada em alemão. A partir daí, se estabeleceu um grande conflito entre moradores e as autoridades legalmente constituídas, que contratavam espiões, (na sua maioria, “caboclos”) para realizarem a fiscalização e a prisão dos transgressores. Como muitas vezes se usou de violência para coibir o uso da língua alemã, as autoridades passaram a ser detestadas pela população em geral.
À medida que mais municípios foram sendo criados no Estado do Rio Grande do Sul, o 11º Distrito de Santa Teresinha foi cedendo território; ainda, com o fortalecimento do povoado da atual sede do município, passou a se instalar uma competição entre estas duas comunidades para a constituição do novo município.
Em 1961, ocorreu o 1º Plebiscito para a formação de Boa Vista do Buricá, mas os votos contrários prevaleceram, motivados principalmente, pela disputa que existia para a instalação da sede municipal: ou em Ivagaci ou na atual sede. Um ano mais tarde, foi realizado o 2º Plebiscito, e desta vez, o “sim” venceu, a assim, em 02 de dezembro de 1963, foi criado o município de Boa Vista do Buricá, pela Lei 4.624.
O nome do município - “Boa Vista do Buricá”, deve-se a dois aspectos: o primeiro, “Boa Vista”, é atribuído à visão que se tem das cabeceiras – foz - do Lajeado Alpargatas, quando deságua no Rio Buricá, a partir das coxilhas que separam a atual sede da comunidade de Ivagaci. Já “Buricá” é o nome do importante rio que banha as terras do município. A origem do nome é tupi-guarani, pois: "Buri" é espécie de palmeira e "Caã" significa mato. Assim, juntando os dois significados, pode-se dizer que Buricá, significa "mato de palmeiras". Havia na época, abundância de uma espécie de palmeiras nesta região, conhecida por “coqueiros”.
Nos primeiros anos da colonização quando a derrubada das matas ocorria de forma intensa, estes coqueiros eram preservados, pois suas longas folhas serviam de alimento para o gado, principalmente, durante o inverno; ainda, seu frutinho servia de alimento tanto aos pequenos animais quanto ao homem, bem como, seu tronco ao ser escavado, podia ser usado como condutor de água.